sexta-feira, 12 de outubro de 2007

entrevista do site oficial do Vitória Sport Clube

Nilson chegou a Guimarães há sensivelmente um ano mas rápido se apercebeu daquilo que é o Vitória. Do alto dos seus 30 anos respondeu a tudo com grande sentido de responsabilidade. Garante que tudo irá fazer para voltar a colocar o Clube no seu devido lugar e admite o desejo de terminar em Guimaraes a vida profissional. Aqui ficam as palavras de um guarda-redes que pretende deixar a sua marca no Vitória Sport Clube.


SITE – Recuando um pouco no tempo, lembro que chegaste a Guimarães com grandes ilusões e aconteceu algo completamente contrário às tuas expectativas. Há explicação para isso?

NILSON – Para mim foi muito frustrante o que aconteceu. Quando decidi vir jogar para o Vitória nunca me passou pela cabeça descer de divisão. Só pensava em lutar para nos classificarmos do quinto lugar para cima, para podermos disputar novamente as competições europeias. Mas o futebol tem destas coisas e é por isso que é um desporto tão apaixonante. No futebol nunca sabemos se vai ganhar este ou aquele. Nem sempre vence o melhor e é tudo muito imprevisível.

S – Os vitorianos não esquecem a emoção que transbordaste quando o cordão humano e as 3000 pessoas no treino. O que te passou pela cabeça nesses momentos?

N – Falo por mim, isso será algo inesquecível. Como já tinha dito em ocasiões anteriores, já joguei em clubes de cidades enormes, clubes de grande tradição onde cheguei a ser campeão. Mas nunca vivi nada igual ao que aconteceu aqui em Guimarães. Por mais que uma pessoa seja fria e desinteressada, esses momentos deixam marcas para toda a vida. Os sócios do Vitória podem ter a certeza que essas imagens nunca mais vão sair da minha cabeça. Vou fazer questão de contar isso para os meus filhos no futuro, eles vão ficar a saber que o pai jogou num sítio onde as pessoas amavam o clube mais do que ninguém.

S – Como reagem as pessoas quando chegas ao Brasil e descreves todas essas situações emocionantes? Não têm noção do que é o Vitória?

N – Nas férias, fui a vários programas de TV, dei entrevistas a rádios e as pessoas ficavam encantadas e boquiabertas com o que ouviam. Falei não só do cordão humano e do treino, mas também das 6000 pessoas em Leiria e das 7000 em Setúbal. Expliquei que essas são duas cidades bem distantes de Guimarães. Os brasileiros ficaram a saber que quando o Vitória joga no Norte do país, exceptuando o Futebol Clube do Porto, é como se estivesse a jogar em casa. Foi aí que me perguntaram. “Então porque caiu?”. Caiu porque faltou muita coisa e o grupo falhou redondamente.

S – O Moreno disse, no ano transacto, que quem passa por este clube jamais o esquece. É isso que sentes?

N – Isso é a maior verdade que existe. Em toda a minha vida, por todos os clubes onde passei, nunca coloquei o dinheiro em primeiro lugar. Talvez por isso eu seja, hoje, um jogador bem sucedido profissional e financeiramente. Eu amo a minha profissão, tenho muito prazer em jogar futebol. Não há um único dia em que eu não goste de jogar ou treinar, seja onde ou contra quem for. Então, se posso fazer isso aqui no Vitória não tem como esquecer o Vitória. Não conseguirei, quando ouvir falar do Vitória, ficar indiferente. Jogar aqui mexe comigo e dou graças a Deus por ter feito com que a minha entrada na Europa fosse pelo Vitória. É um clube que me marcou muito e vou viver essa paixão eternamente. É realmente diferente jogar numa equipa desta dimensão. Costumo dizer que gosto da cobrança dos adeptos e acho que no Brasil ainda cobram mais do que aqui. Mas lá não existe este apoio maravilhoso, que nos dá muita força para correr atrás dos objectivos.

S – Há alguma explicação para teres tido um mau começo com a camisola do Vitória?

N – Principalmente porque não estava habituado ao treino e ao estilo de jogo que se pratica em
Portugal. Mas para além das coisas não me estarem a correr bem, também não corriam bem à equipa. Estava a sentir-me mal porque fui contratado com grandes expectativas e não estava a responder dentro daquilo que as pessoas esperavam de mim. Calei-me e nunca respondi a algumas bocas que me mandaram por causa desse momento mau. Eu estava mal e tinha que aceitar isso. Penso sempre que quem ganha a vida com a boca são os cantores. Jogador só é bem sucedido se trabalhar. A resposta que eu tinha que dar tinha de ser dada dentro do campo. Era isso que os adeptos queriam.

S – Foste um dos escolhidos para capitão do Vitória este ano. Esta escolha representa muito para ti?

N – Representa muito e é um grande orgulho. Mostra um certo peso e importância que tenho dentro grupo. Há mais responsabilidade porque quando nos escolhem como um dos capitães, temos de passar a ser o exemplo nas atitudes e comportamento do dia a dia. No entanto, isso para mim não vai ser difícil. Como vivo muito a minha profissão, procuro disciplinar-me ao máximo, cumpro na íntegra as normas do clube. Esta escolha servirá mais para eu transmitir a minha experiência aos mais novos e aos que chegaram este ano ao Vitória. Temos que passar a todos que só teremos sucesso com unidade, respeito e determinação.

S – Flávio é o capitão certo?

N – Sem dúvida. Para além de já ter muitos anos de Vitória, o Flávio é uma pessoa muito carismática. É um homem de balneário e acho que a braçadeira foi muito bem entregue. É um jogador com muita garra e que demonstra bem a todos aquilo que representa o Vitória.

S – Sendo o Nilson um jogador habituado a grandes palcos, não vês como desprestigio jogar na II Liga?

N – Jogar no Vitória nunca vai ser um desprestígio, independentemente da divisão em que esteja inserido. Tinha um compromisso com o clube e achei que não deveria sair de Guimarães, até pela forma como eu fui recebido e tratado aqui na cidade. O mínimo que eu podia fazer era ficar aqui e lutar, juntamente com os meus companheiros, para devolver o Vitória à primeira divisão. Sempre cumpri os meus contratos e não era por termos descido de divisão que eu ia abandonar o barco. Se eu estive no barco que desceu, também quero estar no barco que vai subir. Devo isso aos adeptos do Vitória. Nunca pensei em sair daqui apesar das propostas que tive no Brasil e mesmo em Portugal. O meu coração está no Vitória.

S – O Vitória reforçou-se para esta temporada com mais dois guarda-redes. Como vês a concorrência para a baliza?

N – A concorrência é sempre boa e deve sempre existir. Dessa forma, ninguém pode pensar que tem o lugar assegurado na equipa. Cada vez mais, uma equipa de futebol não é composta apenas por onze jogadores. Agora são 25 ou 26 a lutar por um lugar ao sol. Quem quiser jogar tem que fazer por merecer a confiança do treinador. Sempre pensei assim e acho que todos deviam pensar desta forma. É óptimo para o Vitória estar bem servido em todas posições. Jogando ou não, o meu comportamento estará sempre focado em ajudar o Vitória a concretizar os seus objectivos. É para isso que aqui estou.

PERGUNTAS DA BANCADA

ADEPTO – Em tão pouco tempo, o que é que te cativou no Vitória?

N – Sem duvida que foi essa paixão, esse amor que as pessoas sentem pelo Vitória. Por existir tanto amor e paixão, eu sinto o Vitória como se fosse uma família. Eu já conheço as pessoas de Guimarães, sei quem elas são porque elas não saem do Complexo e vão sempre ao estádio. Para mim, isso é como se fosse uma família. Existe um ambiente familiar. A coisa mais interessante na vida é nós fazermos as coisas com amor e com paixão. Os adeptos entregam-se de tal maneira que não tem como nós não sejamos influenciados por isso. Quem vem jogar no Vitória de coração aberto, vai sentir exactamente o mesmo que eu.

ADEPTO – Quais as diferenças entre o campeonato português e o brasileirao?

N – Existem algumas diferenças. O futebol brasileiro é um pouco mais técnico mas também mais lento e mais cadenciado. O Futebol português tem mais força e é muito rápido. Isso nota-se pela relva, que é cortada bem baixinha e está sempre molhada. Tirando isso, penso que o futebol é igual em todo o lado do mundo.

ADEPTO – Gostavas de terminar a carreira no Vitória?

N – Já pensei nessa situação. O futuro a Deus pertence mas veria com bons olhos encerrar a minha vida de jogador aqui no Vitória. Espero fazê-lo com muito mais sucesso e alegrias. Mas, que fique bem claro, ainda é cedo para parar. Tenho 30 anos e espero jogar muito mais tempo. Para já quero só voltar à I Liga e depois fazer óptimas campanhas. Acho que essa massa associativa merece festejar um título nacional. Esta gente merece acordar um dia e dizer “eu sou campeão português”. Acho que títulos têm tudo a ver com este clube e com a sua massa associativa.

ADEPTO – Tinhas noção da grandeza do Vitória quando vieste para cá?

N – Tenho uma história engraçada para contar. Em 1997 veio para cá o Preto e o Evandro que jogavam no Vitória da Bahia comigo. Na altura, o Evandro só me dizia que eu tinha que vir jogar para cá, que o povo era louco pelo Vitória, que tinham centenas de pessoas a ver o treino. O entusiasmo dele era tal que conseguiu colocar esse desejo dentro de mim. Fiquei a pensar que um dia ainda iria jogar no Vitória. Passados alguns anos, ligou-me o empresário António Teixeira a dizer-me que o prof. Manuel Machado me queria aqui. Lembrei-me logo das palavras do Evandro. Pensei que era muita coincidência mas gostei muito da ideia de vir para cá jogar nove anos depois do Evandro me ter falado do Vitória. Não se concretizou logo nessa altura mas vim no ano seguinte.

in vitoriasc.pt

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